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Essa é, eu acho, a 3ª tentativa de ter um blog. 4ª, se for contar com fotolog. Enjoei todas as vezes.
Não tinha paciência pra postar, não achava que ninguém de fato lia essa joça...
Portanto, não garanto nada. Não garanto assiduidade, tampouco qualidade.
Ah, e não pretendo fazer disso um diário pessoal. Não porque seja mais uma dessas pessoas que levantam a bandeira hipócrita do “quero minha privacidade” ao mesmo tempo que tem orkuts, fotologs e afins. Simplesmente porque não acredito que haja nada efetivamente interessante na minha vida que possa atrair a atenção de algum leitor.
Apenas gosto de escrever, e escrevo muito. Escrevo para libertar os diabinhos que teimam em infernizar minha mente. Tenho opiniões formadas, conceitos enraizados sobre os mais diversos assuntos, o que não significa que eu não mude de opinião. Mudo, sem medo. Assim, acredito que o que eu penso, minhas idéias, podem ter um pouco mais de valor do que o que eu fiz no fim de semana.
Esclarecido isso, vamos ao que interessa.
Assistam “Pequena Miss Sunshine.”
É assim que quero começar o primeiro texto do primeiro post. Assistam “Pequena Miss Sunshine”.
Não porque abalou Sundance. Não porque é cinema independente. Não faço nenhuma questão de defender Sundance e/ou o cinema independente, muito pelo contrário.
Mas assistam “Pequena Miss Sunshine”.
“Pequena Miss Sunshine” ( Little Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris, EUA, 2006 ), conta a estória de uma família que se mobiliza para levar a caçula para participar de um concurso de beleza na Califórnia. O cartaz do filme no Brasil já indica o que podemos esperar: “de perto, nenhuma família é normal.”. Temos a protagonista, Olive, interpretada pela fofíssima indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante Abigail Breslin, uma garotinha gordinha e desajeitada que usa óculos maiores que seu rosto e sonha em vencer o concurso de beleza. Há ainda o irmão que não fala por causa de um voto de silêncio, o avô viciado em heroína ( o também indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante Alan Arkin ), o pai, o sempre ótimo Greg Kinnear, fracassado criador de um programa de auto ajuda, a mãe, Toni Colette, que tenta a todo custo segurar as pontas na família e, finalmente, na minha opinião a melhor performance do filme, o tio, Steve Carell, um estudioso que, após uma mal sucedida tentativa de suicídio, passa uma temporada na casa da irmã, a personagem de Toni, porque o seguro de saúde não pagava mais sua estadia no hospital. A evidência da vida fracassada dos personagens cresce na medida em que seus sonhos são impedidos de serem realizados ao longo da trajetória até a California, ao mesmo tempo que o sonho e a ansiedade de Olive só crescem com a proximidade do concurso, e todos superam suas dores para realizar o sonho da garotinha.
Nessa corrida pra assistir todos os filmes indicados ao Oscar antes da cerimônia ( dia 25 de fevereiro ), fui ao cinema um pouco cética em relação a Miss Sunshine. Valerie Faris?? Onde eu já ouvi esse nome?? Ah! É a diretora de alguns clipes do Red Hot Chilli Peppers, tipo “Otherside” e “Californication”. Torci o nariz. Pensei em cinema experimental...afinal, primeiro longa dela. Mas tem 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme! Ok...Halle Barry também tem um Oscar. E a credibilidade da Academia?
Aff...depois do leve conflito de idéias, sentei na poltrona do cinema sem saber muito o que esperar. Tentei me desvencilhar dos preconceitos e simplesmente assistir. Resultado? 101 deliciosos minutos.
Não há nada de inovador ou super original na estória. Pelo contrário. O roteiro de Michael Arndt utiliza uma formula antiga: uma “road trip” na qual tudo acontece para atrasar os viajantes na chegada ao seu destino, por vezes pensamos que eles não conseguirão, mas no final eles alcançam seu objetivo. E há, principalmente, o reforço dos valores da família, que mesmo com feridas e bizarrices, consegue enfrentar as dificuldades quando unida. A direção também não possui nenhum atrativo a mais, nada que destaque o casal de diretores dos demais da safra atual.
O que há de tão bom no filme, então, pra merecer a incansável repetição para que todos assistam-no?
Pequena Miss Sunshine é um filme leve, daqueles que não percebemos o tempo passando. A formula do roteiro é clichê, de fato. Mas, como vocês perceberão com meus textos sobre cinema, sou uma defensora dos clichês, quando bem utilizados. Afinal, eles só existem porque dão certo. E no caso desse filme, eles foram muito bem empregados, transformando o mesmo em uma comédia longe de ser escrachada ou pastelão, mas de um humor inteligente e nem um pouco agressivo, contando ainda com uma leve crítica à família de classe média americana e seus valores fúteis.
As interpretações são magníficas. É impressionante como não há weak link. Todos os atores, sem exceção, exploraram ao máximo seus personagens, ainda que o próprio roteiro não os explore tanto assim. E é a junção de boas atuações com uma divertida e inteligente estória que faz do filme um espetáculo de entretenimento como poucos no ano que passou. Assistam e tenham quase duas horas de um cinema que quase não é mais feito: a abordagem de valores humanos sem banhos de sangue, tiros, pessoas morrendo ou, principalmente, a exploração da imagem de astros e estrelas hollywoodianos que muitas vezes se sobrepõem ao próprio filme. Pequena Miss Sunshine é o que tem que ser: um filme que emociona e cativa. Que faz o espectador esquecer a sua vida durante aquele tempo, e sair mais leve do cinema.
O filme demorou cinco anos para ser feito, entre idas e vindas dos grandes estúdios que compravam e desistiam do roteiro com freqüência. Essa é a realidade do cinema independente, dos low budget films, até lá fora.
Os que desprezaram o roteiro devem estar se remoendo agora com o estrondoso sucesso de público e crítica, indicações e prêmios em quase todos os festivais e, para coroar, 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme.
Não tem muitas chances de efetivamente levar as estatuetas. Em Melhor Filme e Melhor Roteiro Original, deve perder pra Babel, não por este ser melhor, mas ser mais a cara da Academia. Abigail Bresil também não deve levar o de Atriz Coadjuvante, considerando que está concorrendo com a nova menina dos olhos da América, Jennifer Hudson, de Dreamgirls (mas a minha torcida, nessa categoria, vai para Adriana Barraza, de Babel, embora tenha também poucas chances.). Finalmente, Alan Arkin também tem poucas chances em Ator Coadjuvante, considerando que Hollywood está em polvorosa com o retorno de Eddie Murphy, que já levou o prêmio na mesma categoria do Globo de Ouro. Falha da Academia de não ter indicado Steve Carell. Sua atuação como o tio Frank, estudioso, gay e suicida, não poderia ter passado em branco.
Mas, surpresas sempre podem acontecer. Ano passado ninguém esperava que Crash (lembremos, cinema independente!), tomasse a estatueta de melhor filme de O Segredo de Brokeback Mountain.
Até dia 25, muitas águas vão rolar, assim como muitos textos sobre os indicados.
Quem tiver interesse, comente. Acho legal a discussão sobre a sétima arte. É a minha favorita!
No mais, até mais.
Volto em breve, eu espero.
Beijos
Carolina.
Não tinha paciência pra postar, não achava que ninguém de fato lia essa joça...
Portanto, não garanto nada. Não garanto assiduidade, tampouco qualidade.
Ah, e não pretendo fazer disso um diário pessoal. Não porque seja mais uma dessas pessoas que levantam a bandeira hipócrita do “quero minha privacidade” ao mesmo tempo que tem orkuts, fotologs e afins. Simplesmente porque não acredito que haja nada efetivamente interessante na minha vida que possa atrair a atenção de algum leitor.
Apenas gosto de escrever, e escrevo muito. Escrevo para libertar os diabinhos que teimam em infernizar minha mente. Tenho opiniões formadas, conceitos enraizados sobre os mais diversos assuntos, o que não significa que eu não mude de opinião. Mudo, sem medo. Assim, acredito que o que eu penso, minhas idéias, podem ter um pouco mais de valor do que o que eu fiz no fim de semana.
Esclarecido isso, vamos ao que interessa.
Assistam “Pequena Miss Sunshine.”
É assim que quero começar o primeiro texto do primeiro post. Assistam “Pequena Miss Sunshine”.
Não porque abalou Sundance. Não porque é cinema independente. Não faço nenhuma questão de defender Sundance e/ou o cinema independente, muito pelo contrário.
Mas assistam “Pequena Miss Sunshine”.
“Pequena Miss Sunshine” ( Little Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris, EUA, 2006 ), conta a estória de uma família que se mobiliza para levar a caçula para participar de um concurso de beleza na Califórnia. O cartaz do filme no Brasil já indica o que podemos esperar: “de perto, nenhuma família é normal.”. Temos a protagonista, Olive, interpretada pela fofíssima indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante Abigail Breslin, uma garotinha gordinha e desajeitada que usa óculos maiores que seu rosto e sonha em vencer o concurso de beleza. Há ainda o irmão que não fala por causa de um voto de silêncio, o avô viciado em heroína ( o também indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante Alan Arkin ), o pai, o sempre ótimo Greg Kinnear, fracassado criador de um programa de auto ajuda, a mãe, Toni Colette, que tenta a todo custo segurar as pontas na família e, finalmente, na minha opinião a melhor performance do filme, o tio, Steve Carell, um estudioso que, após uma mal sucedida tentativa de suicídio, passa uma temporada na casa da irmã, a personagem de Toni, porque o seguro de saúde não pagava mais sua estadia no hospital. A evidência da vida fracassada dos personagens cresce na medida em que seus sonhos são impedidos de serem realizados ao longo da trajetória até a California, ao mesmo tempo que o sonho e a ansiedade de Olive só crescem com a proximidade do concurso, e todos superam suas dores para realizar o sonho da garotinha.
Nessa corrida pra assistir todos os filmes indicados ao Oscar antes da cerimônia ( dia 25 de fevereiro ), fui ao cinema um pouco cética em relação a Miss Sunshine. Valerie Faris?? Onde eu já ouvi esse nome?? Ah! É a diretora de alguns clipes do Red Hot Chilli Peppers, tipo “Otherside” e “Californication”. Torci o nariz. Pensei em cinema experimental...afinal, primeiro longa dela. Mas tem 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme! Ok...Halle Barry também tem um Oscar. E a credibilidade da Academia?
Aff...depois do leve conflito de idéias, sentei na poltrona do cinema sem saber muito o que esperar. Tentei me desvencilhar dos preconceitos e simplesmente assistir. Resultado? 101 deliciosos minutos.
Não há nada de inovador ou super original na estória. Pelo contrário. O roteiro de Michael Arndt utiliza uma formula antiga: uma “road trip” na qual tudo acontece para atrasar os viajantes na chegada ao seu destino, por vezes pensamos que eles não conseguirão, mas no final eles alcançam seu objetivo. E há, principalmente, o reforço dos valores da família, que mesmo com feridas e bizarrices, consegue enfrentar as dificuldades quando unida. A direção também não possui nenhum atrativo a mais, nada que destaque o casal de diretores dos demais da safra atual.
O que há de tão bom no filme, então, pra merecer a incansável repetição para que todos assistam-no?
Pequena Miss Sunshine é um filme leve, daqueles que não percebemos o tempo passando. A formula do roteiro é clichê, de fato. Mas, como vocês perceberão com meus textos sobre cinema, sou uma defensora dos clichês, quando bem utilizados. Afinal, eles só existem porque dão certo. E no caso desse filme, eles foram muito bem empregados, transformando o mesmo em uma comédia longe de ser escrachada ou pastelão, mas de um humor inteligente e nem um pouco agressivo, contando ainda com uma leve crítica à família de classe média americana e seus valores fúteis.
As interpretações são magníficas. É impressionante como não há weak link. Todos os atores, sem exceção, exploraram ao máximo seus personagens, ainda que o próprio roteiro não os explore tanto assim. E é a junção de boas atuações com uma divertida e inteligente estória que faz do filme um espetáculo de entretenimento como poucos no ano que passou. Assistam e tenham quase duas horas de um cinema que quase não é mais feito: a abordagem de valores humanos sem banhos de sangue, tiros, pessoas morrendo ou, principalmente, a exploração da imagem de astros e estrelas hollywoodianos que muitas vezes se sobrepõem ao próprio filme. Pequena Miss Sunshine é o que tem que ser: um filme que emociona e cativa. Que faz o espectador esquecer a sua vida durante aquele tempo, e sair mais leve do cinema.
O filme demorou cinco anos para ser feito, entre idas e vindas dos grandes estúdios que compravam e desistiam do roteiro com freqüência. Essa é a realidade do cinema independente, dos low budget films, até lá fora.
Os que desprezaram o roteiro devem estar se remoendo agora com o estrondoso sucesso de público e crítica, indicações e prêmios em quase todos os festivais e, para coroar, 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme.
Não tem muitas chances de efetivamente levar as estatuetas. Em Melhor Filme e Melhor Roteiro Original, deve perder pra Babel, não por este ser melhor, mas ser mais a cara da Academia. Abigail Bresil também não deve levar o de Atriz Coadjuvante, considerando que está concorrendo com a nova menina dos olhos da América, Jennifer Hudson, de Dreamgirls (mas a minha torcida, nessa categoria, vai para Adriana Barraza, de Babel, embora tenha também poucas chances.). Finalmente, Alan Arkin também tem poucas chances em Ator Coadjuvante, considerando que Hollywood está em polvorosa com o retorno de Eddie Murphy, que já levou o prêmio na mesma categoria do Globo de Ouro. Falha da Academia de não ter indicado Steve Carell. Sua atuação como o tio Frank, estudioso, gay e suicida, não poderia ter passado em branco.
Mas, surpresas sempre podem acontecer. Ano passado ninguém esperava que Crash (lembremos, cinema independente!), tomasse a estatueta de melhor filme de O Segredo de Brokeback Mountain.
Até dia 25, muitas águas vão rolar, assim como muitos textos sobre os indicados.
Quem tiver interesse, comente. Acho legal a discussão sobre a sétima arte. É a minha favorita!
No mais, até mais.
Volto em breve, eu espero.
Beijos
Carolina.
5 comentários:
Repito:
Assistam Pequena Miss Sunshine!
Assistam Pequena Miss Sunshine!
Antes de escrever qualquer coisa, saiba que nao posso escrever nenhum acento nas palavras, o que me obriga a usar a liguagem da internet...
Nao posso deixar de lembrar os scraps que a Carol me mandava falando com opnioes pre-conceituosas sobre o filme! Que bom que, depois de realemnete ter visto, gostou!
Uma coisa que a Carol nao mencionou, que o filme tambem critica, eh a superficialidade da sociedade americana... mas isso nao se ve pela familia e sim no final... eh assustador o modo que as criancas se preparam para a competicao!
De resto, Sta. Pavanelli, de modo inegualavel, escolheu as melhores palavras pra descrever o filme!
;)
eu não sei se consigo ver esse filme... é com a Toni Collette!! ela é feia demaaaaissss me dá medo.
;)
Nada como ler uma resenha feita por uma verdadeira especialista no assunto !
Parabéns, Pavis ! Adorei a resenha, tanto no seu nível mais puramente descritivo como no argumentativo, em especial evidenciando como o filme destoa das produções hollywoodianas contemporâneas. Idéias muito bem articuladas em um texto leve e gostoso de se ler, sem ser banal. Adorei ! Parabéns !
Não vi o filme, mas gosto muito dessa temática de reflexão sobre valores por meio do recurso a aparentes clichês, reinventando fórmulas supostamente desgastadas com uma narrativa inteligente e despretensiosa. Essa talvez seja a magia da simplicidade de muitos filmes independentes e de baixo orçamento.
Um beijo enorme !
Diego.
xuxu,vim comentar só p/ avacalhar o blog.......pq eu posso!!!!!!!
huauahuahuahau
Só posso dizer que o texto é ótimo, apesar do meu interesse quase ínfimo pela sétima arte!
hahahahah mentira
Amu-te.
(nariz torcido)
tá, mãs: é um bom filme, não um sensacional filme. é um clichê bem utlizado, mas não fantasticamente utilizado. a academia em sua melhor forma - mas ainda assim: é a a-ca-de-mi-a.
(só porque eu gosto de discordar de você!)
momento he-he-he: halle berry, de fato: e onde foi parar a bodega da credibilidade?!
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